Wednesday, May 31, 2006

O quieto Marquinho

Marquinho era magrinho, fraquinho, branquinho e tinha um narigão, orelhonas e olhos normais, mas que pareciam olhões atrás dos grossos óculos. Nasceu assim e morreria assim.

Talvez por isso era tímido ao cúmulo ao cubo.

Filho único, falava pouco com a mãe e o com o pai e só, mais ninguém.

Na escola tinha um amigo na cantina, um chapeiro gordo que falava mais que o homem da cobra. E ele falava cobras e lagartos sem parar, não parava, falava, continuamente, o tempo todo, ás vezes esquecia de respirar, sem parar, era tagarela, conversava sozinho se fosse possível, dormia falando, e era aquela coisa, o tempo todo, repetia também, repetia também, repetia também, repetia também.

Chega!

Mas Marquinho nunca nem sequer falou a palavra chega. O chapeiro nunca percebeu que Marquinho era tímido. Um falava o outro escutava, eram perfeitos.

O maior pavor de Marquinho eram as pessoas que encostavam nele, não esbarrões ou eventuais abraços, beijos ou apertos de mão. Mas os que recebem para encostar na gente: o cabelereiro cortando o cabelo, o dentista procurando por cáries, o médico medindo a pulsação. Por algum motivo não só encostar nas pessoas basta para estes violadores, eles falam o tempo todo. O chapeiro gordão não encostava em Marquinho. E também não esperava resposta. Mas os profissionais da tocação esperam resposta.

“Como choveu ontem,né?”. Marquinho sentia ele mesmo sua pulsação no pescoço, ao lado da quieta goela e ia embora pior do que entrou. Aquela frustração devia dar câncer.

Aos 13 anos entretanto, Marquinho teve seu corpo inundado por hormônios. Falou. Ele agora tinha o bigodinho ralo se movendo freneticamente em sincronia com o pomo de adão.

Conversava com a cabelereira virando a cabeça todo o tempo e tinha um corte torto. No dentista ele babava mas não calava.

Começou a falar e brigou com o chapeiro gordão. Arranjou uma namorada bonita para mandar ela à merda. Fez um filho numa noite de sexo quando gritou sem parar. Deu sermão no namorado da filha. Mentiu para a amante e para a mulher. Falou para seu ex-sócio: “Somos ex-melhores amigos”.

Tinha 53 anos e a partir de agora, de costas para o procotologista, Marquinho não falaria nunca mais. Não responderia sobre o calor que fez ontem. Seria tocado pelo médico e calaria.

Tuesday, May 30, 2006


Pra quem gosta de mato

Não tem como ser mais reality show que isto: Survivorman. O cara se mete num canto desabitado do planeta, sozinho, sem água, sem comida, sem barraca, sem uma equipe de filmagem, e fica brincando de sobrevivência na selva por uma semana. Na selva tropical da Costa Rica ou nas montanhas rochosas do Canadá, está lá Les Stroud com umas duas ou três cameras para filmar seus dias sofridos.

Ele faz um abrigo com o que encontra, produz fogo com pauzinhos e come, se come, as plantas e bichos que só alguém com bastante conhecimento sobre a flora e fauna do planeta consumiria. Também tem episódios que ele não acha nada e fica dias sem comer. Como no círculo polar ártico, bem próximo do pólo, sem nada em volta a não ser neve.

O divertido além de tudo isto é que ele não tem muita presença de palco na frente da câmera. É desajeitado e conta umas piadas sem graça, mas, poxa, o cara está no deserto, sozinho, sem água, sem comida, sem nada e filmando tudo. Aliás ele está sempre reclamando de ter que estar registrando sua sobrevivência. "Se fosse só sobreviver era fácil, o chato é ter que ficar filmando", ele diz.

Eu não sou um grande apreciador de reality shows, mas adoro mato, então virei fã do canadense Les Stroud.

Saturday, May 27, 2006

Da série: Já ouvi numa mesa de bar

"Meu objetivo de vida é ter pelo menos três amantes chorando no meu velório."

Friday, May 26, 2006

Mais sobre Las Vegas

Las Vegas é um lugar de contravenção. As pessoas caminham pelas ruas com uma cerveja na mão. Coisa que não pode aqui nos EUA.

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Para entrar ou sair em qualquer hotel, shopping center, ou restaurante, o sujeito tem que passar por dentro de um cassino, por razões óbvias. Mas, o interessante é que tem um folheto no quarto do hotel afirmando que Las Vegas é um lugar para toda a família: as crianças podem ir aos restaurantes e às lojas. Só não podem entrar nas áreas dos cassinos. Como?

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Os shopping centers são decorados com um céu azul com nuvens brancas. O pé-direito alto somado à concavidade do teto e a uma ilumicão luz-do-dia, procuram simular o céu. Mas isto não é o pior. No Aladdin, a cada meia hora, há uma demonstração de chuva, com relâmpagos e trovões. Caso, depois de um tempo lá dentro, você se esqueça o que estas coisas eram.

Livres para amar

Para quem acha, hoje, absurdo um casamento aberto, olhe como Sartre e Simone de Beauvoir se comportavam na metade do século passado. Aqui. Nesta boa resenha da Carla Rodrigues sobre o livro "Tête-à-tête: Simone de Beauvoir e Jean-Paul Sarte".

Wednesday, May 24, 2006

In English

Minha tentativa de criação de um blog em inglês. Aqui. Estou usando posts publicados anteriormente no Ornitorrinco. Traduzo-os e adapto-os.

Las Vegas


Quando o turista tira a clássica foto na frente da Torre de Pizza, do Cristo Redentor, da Opera House, ou qualquer outro monumento de famosas cidades, ele na verdade está fincando sua bandeira naquele local. É a prova de que: “Olha, eu estive aqui”. O próximo passo é ir a lojinha e comprar souvenirs para o povo. Como uma Torre Eiffel peso de papel ou um Empire State apoio para livros. Aí que a originalidade e autenticidade desaparecem por completo. É tudo feito na china. Infalivelmente vai haver um selinho redondo dourado colado no feltro verde embaixo da lembraça e lá estará a fatídica afirmação “Made in China”.

Pois então. Las Vegas é um grande souvenir! Imagino um americano médio, de camisa florida passeando numa gondola pelos canais do hotel Venetian e falando para sua esposa gorducha: “Olha que romântico. E é bem melhor que lá. Me falaram que a água está suja e fedida.” O noivo e a noiva que dividem a gandola com eles complementam: “E a água está subindo, qualquer dia Veneza afunda. Las Vegas sempre estará aqui.”

Existe uma palavra em inglês que define bem Las Vegas: “cheesy”. A tradução interpretada é algo próximo de cafona ou brega mais uma pitada de barato e de mal gosto. Esta é a Las Vegas. Pode ser que nos anos 80 quando os conceitos dos hotéis foram elaborados era interessante ter uma torre Eiffel de mentira, ou uma Nova York em miniatura. Hoje isto me parece muito queijoso.

Saturday, May 20, 2006

O estado de Oregon

Ninguém fora dos EUA conhece e os americanos não vao pra lah. É um dos estados sem muitas indústrias, sem turismo. Um estado, digamos, caipira.

Por outro lado, conheci um sujeito e sua família de 6 filhos habitante da minúscula cidade de Bandon. Ele disse que já havia morado em Nova York e Paris, mas decidiu voltar pra sua terra natal. Pode ser papo de caipira, mas ele me parecia bem feliz.

Tuesday, May 16, 2006

Pensamento inquietante do dia

Sobre o assunto de imigração ilegal, eu me pergunto:

Mas por que que falam tanto em fechar as fronteiras americanas? Qual o problema com os canadenses?

Por que você malha?

Tem pessoas que se exercitam para se manterem saudáveis, simples assim. Outras tem a vaidade em primeiro lugar. Malham para se tornarem mais sexy. Como resultado também ganham saúde.

Eu estou na pior categoria, sou Junkie. Não me motiva os resultados de melhora geral da saúde ou me tornar mais atraente, sou um drogado da serotonina. Gosto da chapação que dá depois de correr ou nadar.

Se existisse uma pílula ou cigarro de serotonia eu parava de malhar.

Monday, May 15, 2006

Caos - SP

E-mail que recebi de um amigo hoje, por volta das 2 da tarde no horário de São Paulo:

Galera !!!!

Quem estiver on-line dê uma olhada na internet ou outras redes de notícia. Pela Radio Peão diretamente dos correspondentes de São Paulo:

"Os Bandidos fecharam Congonhas e Guarulhos, entraram em escolas particulares e seqüestraram crianças, estão fechando shoppings e estabelecendo toque de recolher. Caralho, virou guerra civil! Detalhe, parece que o negócio está se espalhando já chegou em Jundiaí e no ABC está fervendo."

Vixe!


Se está exagerado não sei. Mas me assustou.

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Na sequência recebi esta mensagem de outro amigo.

Rádio peão exagerada, hein? A gente tava acompanhando aqui via nextel, mas não chegou nesse nível.

Até dois tiros é suportável.


O que que ele quis dizer com "Até dois tiros é suportável"?

Sunday, May 14, 2006

Carlão, um político brasileiro

Carlão era gordão e simpático. Poderia bem ser um Rei Momo, mas decidiu pela política.

Em seus discursos adorava explicar, do seu modo, o que era a democracia representativa.

Falava que um deputado eleito não deveria ter idéias próprias. Como assim!? Um deputado deveria ser um corpo com vários corpinhos dentro. Apontava para a barriga e tirava uma ou outra risada só, o povo ainda não entendera. Por exemplo, meu sistema circulatório é os taxistas, leva outras células para todo canto. Meu coração é nossos amigos trabalhadores das indústrias que produzem a força para a comunidade. Meu cérebro representa as escolas. Comparava, ainda, seu sistema respiratório que limpava o corpo, com os garis. Podia soar mal associá-los aos intestinos.

No final do discurso recebia aplusos eufóricos.

Na churrascaria, Carlão nem perdia tempo com buffet de saladas, comia a parte mais gordurosa da picanha, bastante linguíça e costela. Tinha dificuldades para do seu gabinete andar até o elevador e de lá até o carro. Também não era inteligente e não lia. Seu maior triunfo intelectual era adivinhar quem engravidava e quem casava com quem nas novelas da tv.

Como não poderia deixar de ser, morreu cedo. Ninguém sabe bem o que aconteceu. Seus orgãos começaram a falhar um por um. Da descoberta dos problemas até sua morte foram poucos dias.

A comunidade chorou. Ninguém duvidava que ele era o maior exemplo da democracia representativa do Brasil.

Saturday, May 13, 2006

Cadáveres para a arte e a ciência

Um cadáver sem pele, ajoelhado e com as mãos como se estivesse rezando, segurando o próprio coração. A primeira escultura/objeto científico da Exposição Body Worlds simboliza bem a polêmica em torno da mostra.


Fui hoje ao Museu de Ciências Naturais de Houston ver os Mundos do Corpo do Dr. Gunther von Hagens. Ele chama seu trabalho com a plastinação (técnica de sua autoria que consiste em substituir os fluídos do corpo por resinas plásticas) de Arte Anatômica. O corpo humano assim exposto serve como um objeto de análise anatômica, certamente. Em um museu de ciências pode estar ao lado de ossos de dinossauros ou de uma múmia. Entertanto Von Hagens não se contenta em apenas mostrar mas também modela os cadávares em poses como esculturas. Poderiam estar num museu de arte: um cavaleiro montado segurando o próprio cérebro (o cavalo também não tem pele), ou uma mesa com três corpos jogando poker.


O resto da polêmica não se centra na questão arte ou ciência, independe disto. Grupos, geralmente de base religiosa, recriminam a exposição por completo. Corpos humanos deveriam ser tratados como sagrados.
Fontes: Minnesota Public Radio e Wikipedia


Sobre o filme "Missão Impossível 3"

É um filme de amor! Ontem quando fui assitir o cientologista Tom Cruise (no papel do mega-ultra espião Ethan Hunt), esparava as explosões, os tiros, as quedas livres, os esquemas mirabolantes de entrar e sair de algum lugar. Não antecipei no entanto que ao invés da motivação clássica de salvar a humanidade, como nos dois primeiros filmes, desta vez, para o herói o mais importante era garantir a vida de sua mulher. E não é uma qualquer bondgirl ou femme fatale. E é a esposa mesmo, aquela que se tem em casa, alguém com quem ele quer pasar o resto da vida. Bonito!

Bem, a crítica do filme propriamente: Na telinha não terá muito apelo. A sugestão é ir preparado para pouco conteúdo, mas bastante ação. De preferência sente bem na frente. Esta sempre foi a propósta. Sendo assim: missão cumprida. Nota B+.

Thursday, May 11, 2006


"Bem, colocado assim é claro que você pode se casar com minha filha"

A Bela e a Fera

Almoçando num restaurante hoje, não pude deixar de notar o casal na mesa ao lado. Ela jovem, magra, alta, com cabelos escuros e traços latinos. Bonita, mas bem bonita mesmo. Ele também de traços latinos e mais nenhuma semelhança com ela. Era um gordão com uma cara mexicana inchada.

Chega um terceiro sujeito e senta-se com eles. Era certamente um americano e provavelmente um advogado. Acho que advogado cheira diferente. Aquele ali parecia estar na borda do legal com o não-tão-legal. Cheirava, então, pior ainda.

Curioso que sou, cheguei a cadeira pra perto e ouvi trechos.

Dizia o gordão:....quanto que vai custar?....bla bla bla...quanto que vai custar?.... Era só o que ele perguntava.

O advogado se dirigindo a menina: ....você já foi casada?....já foi presa alguma vez?.... qual seu estatus atual?....

A menina no tempo todo falou umas duas frases que eu não entendi e pelo jeito nem eles. Ela falava um inglês arranhado.

Pelo que pareceu, o gordão era naturalizado e estava trazendo a menina para morar pra cá num casamento arranjado. Deve ser o que em inglês eles chamam de “Win Win”. Ela ganharia estatus legal de permanência, e ele teria aquela mulher (que mulher!) ao lado.

Por amor, ali, só tinha o advogado. Amor pelo dinheiro.

Wednesday, May 10, 2006

O tio do Felipe se incomoda com pouco

O tio do Felipe expulsou ele de casa.

Conheci o Felipe quando dava aulas de inglês na mesma escola que ele em 2003. Ele era um menino ainda, 21 ou 22 anos, loiro, alto, boa pinta e super gente fina. Éramos bem amigos e volta e meia ele vinha chorar seus problemas.

O Felipe é gay, por isso o pai lhe expulsou de casa e ele foi morar com o tio. Na casa do tio ele podia levar para dormir o Júlio, seu namorado há dois anos. O tio, solteirão, era bem sossegado com isto, fazia café da manhã para os dois.

Uma noite quando os dois fizeram muito barulho o tio do Felipe deu uma reclamada leve. Mas foi algo normal, longe de ser motivo para brigas.

O tio estranhou um pouco quando o Júlio e o Felipe levaram mais um amigo para dormir com eles, o barulho foi mais intenso, mas ele passou o café pela manhã.

Entretanto, este carinha novo começou a ligar e cantar o Felipe. Numa noite ele foi dormir com o Felipe sem o Júlio estar junto.

No outro dia de manhã, o tio, antes do café da manhã, liga pro Júlio contando tudo e expulsa o Felipe de casa. Traição não é coisa que se faça.

South Park: Faça você mesmo

Monte seu personagem no estilo Cartman, Kyle, Stan e Kenny. Aqui.

Tuesday, May 09, 2006

Desenvolvimento para onde?

Tinha uma amiga minha brasileira passando um tempo aqui em Houston. Entre uma cerveja e outra me refiro ao Brasil, nas inevitáveis comparações entre aqui e aí, como país de terceiro-mundo. Ela fica chateada comigo, “O Brasil não é terceiro-mundo” e me olha com uma cara de como se eu estivesse cuspindo no prato que comi.

Na hora pedi desculpas e tomei um gole de início de outro assunto. Mas, na verdade a culpa é da Andréa minha professora de geografia. Ela ensinou que os países ricos eram primeiro-mundo, os pobres terceiro e os comunistas pobres segundo. Mostrou um mapa colorido no livro e tudo. Era algo mais ou menos assim. Nesta parte eu estava distraído pintando a Antártida, que não tinha cor nenhuma.

De qualquer modo, minha pergunta é: soa melhor chamar de país pobre? Ou quem sabe subdesenvolvido? Tudo bem, estes nomes eu aceito. Agora, não me venha com: “em desenvolvimento”. Isto me soa tão hipocritamente correto e esdrúxulo como chamar vira-lata de “sem raça definida” ou mendigo de “indivíduo em situação de rua”.

Parece que “em desenvolvimento” foi criado justamente por quem, ao contrário de mim, não se importa com uma melhora no padrão de vida dos brasileiros. Querem deixar o povo inerte. Do tipo “Se acalmem, vão levando a vida que um dia vocês chegam lá”. E nós seguimos contentes. Pobres, mas contentes.

Na minha defesa não vou nem entrar em papos com direito a subjetividades como sociologia ou política. Vamos às ciências exatas. Não há energia suficiente para que todos vivam como se vive nos países ricos.

Então, estamos nos desenvolvendo para onde?

Quem sabe quando todos forem desenvolvidos os habitantes da África, Améria Latina e Ásia andam de carro na segunda, quarta e sexta. Europa e América do Norte: terça, quinta e sábado. No domingo ninguém dirige porque é dia de lançamento de foguete levando lixo para o espaço.

Se você quiser elaborar uma teoria de novas fontes ou melhor uso de energia, boa sorte. Mas por enquanto eu vou fazer um favor para meu país não o enganando e chama-lo de terceiro-mundo.


Sobre o filme “A Lula e a Baleia”

Nota prévia:
Lembra de “Dumb and Dumber” (Debi e Lóide, em português)? Pois aquele hilariamente tosco do Jeff Daniels é um outro ser por completo em “A Lula e a Baleia”. Impressiona ver um ator completo assim. Para ele nota: A+.


Segundo o Seattle Post-Intelligencer o diretor Noah Baumbach, conta sua prória estória de quando no Brooklyn da década de 80 seus famosos país se separaram. Deve ser, porque a sensibilidade com que Baunbach relata a humanidade de cada indivíduo numa família em crise é tocante.

O pai escritor (Jeff Daniels) foi famoso há um tempo atrás, mas no presente só mantém um ar intelectual desgastado. A mãe começa uma carreira de escritora a todo vapor e mantém um romance com um jovem e descolado instrutor de tênis. O filho mais velho idolatra o pai e repete sua atitude pseudo-intelectual, o levando a extremos como plagiar uma música do “Pink Floyd” para um concurso no colégio. E, finalmente, o filho mais novo, queridinho da mamãe, espalha seu esperma por objetos pela escola.

Depois da separação dos pais e a custódia dividida entre dois lares, cada personagem tem de encarrar seus próprios problemas como se refletidos por espelhos segurados pelos outros membros da família. Estes espelhos refletem e ao memo tempo distorcem de acordo com quem os segura. Sim, o filme é complexo. Não começa e nem termina, tudo é meio na estória.


Nota posterior:
A direção de arte é de primeira. A recriação dos anos oitenta se dá não só nos objetos em cena, mas também na fotografia do filme.

Nota para o filme: A-

Ah, as mulheres russas.


Todas procurando casamento. Aqui.

Via Nominimo

Monday, May 08, 2006


Sobre o filme "Derailed"

Quando o filme foi lançado aqui nos EUA, o destaque para Jennifer Aniston foi quase tão grande, ou maior, que ao dado para Clive Owen. Ela é uma atraente (?) e interessante (?) mulher que seduz o personagem de Owen, causando-lhe um "descarrilhamento" na vida de responsável pai de família. Acontece que para minha surpresa (ou não) Aniston tem uma participação miúda tanto no tempo de aparição como na atuação propriamente. E olha que Clive Owen está fraquinho. Nota C.

Promesas do fim do mundo

Quando eu era criança não tinha medo de lobisomem, bicho-papão nem mula-sem-cabeça. Também não me preocupava com bandidos e ladrões. Mas, em compensação, eu tinha certeza que caíria uma bomba atômica no Rio e todos moreriam. Eu não conseguia dormir imaginando alguém nos EUA apertando um botão vermelho. Nunca me ocorreu que os maus eram os Russos.

Lembro que na época assisti no Jornal Nacional um grupo de pacifista que tinha um relógio que marcava o tempo para o fim do mundo. Naquele dia, Cid Moreira contou que devido a um desacordo entre os EUA e a União Soviética o marcador andou mais um minuto pra a frente. Simbolicamente faltavam, então, 4 minutos para o fim do mundo. Malditos pacifistas!

Eu não contava estas coisas para ninguém, poderia parecer um bobo com medo de uma guerra nuclear. Mas este era meu maior pavor.

Passou um filme na Globo chamado “O Dia Seguinte”. E então eu sabia até como seria o momento fatal para humanidade. Primeiro carros, tvs e até relógios de pulso parariam de funcionar e depois como num raio-x eu viraria um esqueleto quando as ondas eletromagnéticas e de calor me atingissem. Assim funcionava minha cabeça.

Ás vezes com o intuito de me acalmar eu imaginava que talvez os americanos iriam atacar São Paulo, não o Rio. Ficava mais tranquilo.

Porém havia a usina nuclear de Angra dos Reis do lado do Rio. Eu ficava pensando se a radiação chegaria à zona norte.

Hoje eu cansei de esperar pelo fim do mundo. Avisaram sobre a Aids e o vírus ebóla. Prometeram catástrofes decorrentes do efeito estufa, chuva ácida, buraco na camada de ozônio e derretimento de calotas. Falaram de aumento do Sol e depois da diminuição do Sol.

Não vai ser gripe aviária e guerra dos cristões x muçulmanos que vai tirar meu sono.

Desejo Catastrófico do Dia

Onde está a epidemia da gripe do frango que não chega logo?

Saturday, May 06, 2006

Ninguém escreve

Toda sexta-feira o coronel espera por uma carta do governo que garantirá sua pensão. Todos, sua mulher, seus vizinhos, até ele mesmo, sabem que esta carta nunca chegará, mas a esperança, mesma que ilusória, o mantém vivo.

Quando há alguns anos li o livro do Gabriel Garcia Marquez "Ninguém escreve ao Coronel" não dei tanto valor. Hoje aqui nos EUA esperando há meses por uma carta da imigração americana que trará um visto de trabalho, entendo que a boa literatura é indefectível.

Coisas que se parecem com gente

Divertido! Aqui

Top One

Todo mundo tem uma lista de Top Five filmes. Talvez eu esteja só impressionado por ter assistido o filme ontem, pela quinquagéssima vez, mas vou dar um lance super arriscado. Não vou nem escolher cinco. Top One: A melhor atuação da história do cinema é de Antony Hopkins como Hannibal Lecter em Silêncio dos Inocentes. Pronto. E o ápice da performance é a cena na qual ele está naquela cela no meio de uma gigantesca sala olhando para a personagem da Jodie Foster direto nos olhos. Para nós olhando para a câmera. Esta aqui, então é o limite para qualquer ator. Podemos começar a classificar todas as outras interpretações por quão próximas elas chegaram desta. O limite, a perfeição.



Mais uma vez, talvez eu esteja só impressionado....

Friday, May 05, 2006

Jabá

Nelson Padrella é um artista plástico amigo da família. Veja algumas de suas obras aqui.

Sobre o filme "Three...Extremes"

Assisti "Three...Extremes" ontem. Como o nome sugere são três estórias de horror, bem, ao extremo. Sendo diferentes do esquema americano de: homem mau chacina jovens; os diretores asiáticos criam algo que, acreditem, casa Almodovar e Hitchcock. O que lembra o diretor espanhol são as cores fortes que compõem praticamente todas as cenas do início ao fim. Similar à narrativa do mestre do suspense tem-se a sensação de que por mais assustador que seja o que já foi apresentado o que virá será mais tenebroso. Ainda há no topo de tudo isto uma violência explícita que lembra "Cães de Aluguel" ou "Pulp Fiction" do Tarantino. O filme todo vale bastante a pena. Nota: A-.

As três estórias são:

"Dumplings" de Fruit Chan - Hong Kong: Obsecada por beleza e juventude uma mulher se alimenta de fetos.

"Cut" de Chan-Woo Park - Coréia: Um famoso diretor de cinema tem a família torturada por um maníaco que o inveja.

"Box" de Takashi Miike - Japão: Duas irmãs gêmeas contorcionistas e um pai mágico tem o ódio e a morte os atormentando no passado e no presente.

Thursday, May 04, 2006

Imigrantes e a grama do vizinho.

É comum as pessoas imaginarem a vida alheia como mais alguma-coisa do que a suas próprias. O seu amigo solteiro tem mais liberdade, o primo tem mais dinheiro, a colega de trabalho é mais culta. E isto é natural, "A grama do vizinho é sempre mais verde", afinal.

A coisa se complica em casos como os dos imigrantes. Daqui de fora é bem facil ficar imaginando como talvez fosse melhor sua vida no Brasil. Tem um outro você paralelo lá. E o pior é que uma vez que você decide tentar a vida num outro país seu destino está fadado. Se você volta, a grama fica mais verde no país em que você estava.

Novo Visual

Opinem sobre o a nova aparência do Ornitorrinco. Obrigado.

Wednesday, May 03, 2006

Sobre o filme "RV"

Para unir a família e escondido dela fechar um negócio, Bob Munro (Robin Williams) precisa fazer peripécias de todo tipo numa viagem da Califórnia para o Colorado num RV - Recreational Vehicle, para nós Trailer. O filme tem o raso humor família americano. Nota: C-

Sentidos e sensibilidade

Assento de carros aquecidos é uma das várias mordomias que os carros vendidos nos EUA fornecem. Pois bem, assisti agora a pouco o anúncio da reportagem que esclarecerá sobre os perigos de ser seriamente queimado por assentos funcionando mal. Aparece um velhinho dizendo: "Comecei a sentir um cheiro de carne queimada [pausa]. Olhei para baixo e era a minha bunda queimando."

O sujeito pode estar bom de olfato, mas o tato pelo jeito já foi pra cucuia faz tempo.

"Quando cheguei em casa e tirei a camisa notei que ela estava furada. Foi então que percebi uma faca enfiada no meu peito"

Aquisição: CD do Johnny Cash

A cultura de mil anos é destruída com o metálico som do fechamento da porta da cela atrás de você. A vida lá fora, atrás de você imediatamente se torna irreal. Você começa a não se importar se ela existe. Tudo que você tem consigo na sua cela é seu puro instinto animal.

Johnny Cash começa assim seu texto de apresentação no encarte do CD "At Folsom Prison" que adquiri recentemente. E ele era um malvadão mesmo. Preso por quatro vezes por porte de drogas, ele também bebia e brigava como seu público predileto, os criminosos em penitenciárias. Tocava para eles para trazer um pouco de luz na sombria vida que bem conhecia.

Ainda nem ouvi o CD, depois conto mais.

Monday, May 01, 2006


Sobre o filme "United 93"

Colocar o espectador dentro do vôo 93 da United Airlines é o que o diretor Paul Greengrass tenta fazer. No dia 11 de setembro de 2001 um aviao com 40 passageiros e tripulantes e 4 terroristas foi o único das quatro aeronaves sequestradas que não atingiu o seu alvo, supostamente o Congresso em Washington. As imagens tremidas, desfocadas ás vezes, em rápidos movimentos e recheadas de closes condizem com a visão que teria o passageiro extra. É bastante tonteante e principalmente tenso estar lá dentro. Para quebrar este ritmo, a narrativa vai para as salas de controle aéreo militares e civís. Não que lá as atmosferas estivessem mais calma, pelo contrário, eram caóticas, mas ali estão controladores de tráfico e militares, não são pessoas comuns.

A política, entretanto, está fora do voô, fora das salas de controle, fora do filme todo. Não é esta a idéia mesmo. Bem ao contrário do anti-bushismo de Micheal Moore em "Fahrenheit 9/11", por exemplo. Parece-me que o diretor quis homenager o provável heroísmo dos passageiros ou simplesmente, quem sabe, fazer um filme de tensão. Não é horror, nem tristeza, é um sentimento de quero que acabe logo, mas devo assistir.

Nota para o filme: B+

É Arte?

Meus amigos ficam putos porque eu sou um enorme apreciador de arte abstrata. Chame de moderna, contemporânea, o que quiser, mas o fato é que vou ao MAM e acho maravilhoso um fusca pindurado no teto. Daí me dizem, "Então um tijolo pode ser chamado de arte". E eu digo, "Sim, pode, e olha só que legal, você está agora cercado de arte neste momento. Veja aquele tijolo ali, um pouco mais escuro que este aqui, você já está vendo a forma, comparando cores e texturas, isto é arte."

Parece-me preguiça mental. Eles buscam a matriz binária de tudo. O bem e o mal, a vida e a morte. É mais fácil trabalhar com o zero e o um, que com o infinito.