Thursday, March 26, 2009

A Barba Toma Conta de Mim

Sou um bebê de 30 anos de barba bem feita, recém feita.
Sinto meu rosto como sinto seda.
Suave é minha cútis como são minhas ações.
“Por favor”, “Muito obrigado”. Abro a porta do carro para meu amor.
Quem falou que isto não existe mais? Minha cara limpa não se acanha em ser gentil, em ser um cavalheiro.

Como uma lixa no terceiro dia sinto meu queixo, pescoço, maçãs do rosto.
“Por favor” vira “Porra”.
Estou deprimido, bebo demais. Não durmo, bebo demais. Bebo demais.

Me liberto no sexto dia. Sou um bruto total.
Não falo palavrões, porque só ruídos solto.
Minha barba crespa, grossa é minha verdadeira face.
Minha mulher é repulsiva para meus olhos.

A barba é plena. Entre os carrapatos minha baba escorre.
Uma barba de dezesseis dias. Ou seriam dezessete?
Não raciocino, sou menos que um animal.
Se existo de alguma maneira, sou no melhor uma poça de esperma, pus, catarro.
Vejo aquela que amei, que se diz minha mulher como nada mais que uma poça de esperma, pus, catarro também.

Me tranco no banheiro. Me encaro no espelho. Tenho que fazer a barba. Ela toma conta de mim.

A navalha. Minha goela. Esperma, pus, catarro, sangue e barba, muita barba.

Monday, March 16, 2009

Contos Minúsculos 5

Acabara de escrever em seu diário: “Assim passei meu quadragéssimo-terceiro dia sem descer do alto deste Carvalho. Só me tiram daqui e derrubam esta árvore com uma ordem judicial assinada pelo Senhor!” quando de sopetão do céu anil sem nuvens um relâmpago desceu matando ele e a árvore.