Friday, December 14, 2007

Palavras

Já que final de ano é tempo de se fazer listas faço uma aqui. Nada mais chato do que listar as realizações do ano que se foi ou planos para o ano que chega.Então prefiro ser mais poético e fazer uma lista de palavras, vocábulos que sinto saudades de falar e de ouvir. Algumas pelo valor sonoro das letras juntas. Outras pelo que elas representam. E umas outras sem muita razão aparente mais que são palavras que eu simplesmente gosto. Aqui estão elas seguidas por uma ligeira explicação.

Assombração: Não há uma palavra em inglês como esta. Para início de conversa, na forma temos o som “ão” inexistente em inglês. Mas mais importante que isto é o que “Assombração” me traz a mente. Vejo uma cidade do interior, talvez Palmeira no interior do Paraná, vejo um casal de velhinhos caboclos numa casa de madeira contando histórias de fantasmas para as crianças de olhos espertos esbugalhados.

Caracol: Uma das minhas palavras favoritas de todos os tempos. Lembro duns caracóizinhos que havia no quintal da minha casa de Higienópolis no Rio de Janeiro. Eles tinham uma casca branca, frágil, eram pequenos, andavam bem devagar, obviamente. Acho que gosto da palavra por ela me lembrar do meu quintal, das brincadeiras com meu irmão, de subir na parreira de uvas. Mas também adoro o som. Gosto de como a lingua no fundo do céu da boca no prim eiro “C” faz uma pequena onda que vai para a frente do céu da boca para pronunciar o “R” e volta para o fundo da boca terminando com o enrolar do“ol” final.

Porventura: “Por acaso”, “Talvez”, “Quem sabe”, todas úteis, super usadas. Talvez por isso não sejam tão legais de se usar como “porventura”. Fui um grande falador de “porventura” no Brasil. Aqui uso bastante o “Perhaps” que também gosto, porventura tanto quanto gosto de “Porventura”.

Carta de alforria: Estas três palavras juntas são o que uso quando uma namorada deixa eu sair sozinho. Como gosto de sair sozinho, gosto da palavra. Bem, não é tão simples assim. Tive uma chefe que era burra, tapada, uma idiota. Eu, que amo todos, cheguei a ter ódio daquela mulher. E ela com toda sua ignorância foi a primeira pessoa que vi usando essa expressão que até então eu desconhecia. Ela portanto me ensinou algo. Acho que penso em “Carta de alforria” e minha confiança na humanidade dá uma piscada para mim. Meu pai diz que ninguém é tão inteligente que não possa aprender alguma coisa com alguém todos os dias, e ninguém é tão estúpido que não possa ensinar alguém algo todos os dias.

Vaga-lume: Uma mistura de assombração e caracol. Me faz lembrar da cultura de cidade do interior (talvez Palmeira no Paraná novamente) onde encontramos bastantes vaga-lumes. E também me lembra meu irmão, minha infância, meu amor por bichos, todos os bichos.

Onomatopéia e Mitocôndria: Coloco as duas palavras juntas por que gosto delas pelo mesmo motivo. Soam divertidas. Cheia de sílabas, acentos bem colocados, estas palavras parecem que saem cantando da boca. Em tempo, as onomatopéias propriamente são prontas para serem cantadas também: pipilar, tintim, cacarejar.

E vocês? Vocês tem palavras prediletas?