Friday, November 16, 2007

Meu nome é Valério. Eu sou um alcóolatra.

"Um copo só... ou será meu vício “falando” comigo. Não gosto desta expressão. Mas nas reuniões dos Alcóolicos Anônimos é comum se falar do vício como uma entidade separada, um ser de vontade própria que “pensa”, “fala”, “sugere” coisas ao seu portador. Mas minha vontade de assistir televisão tem a mesma voz do meu vício em álcool. Como posso diferenciar o que é o vício “falando” e o que é simplesmente vontade própria? Este mesmo exemplo da TV seria derrubado por meu patrocinador por ser um outro vício. Vício por televisão. Tem gente viciada em tudo, desde exercício físico até o vício em outra pessoa. Da onde vem toda esta invenção? Que se dane é tudo história, é tudo papo. Vou tomar um copo de vinho. Não! Deve ser o vício falando. Mas o que é pior? As conseqüências da bebida ou essa voz que só se cala quando bebo? Minha mulher me largou, mas e daí: Ela iria me largar mesmo se eu fosse um padre. Péssimo exemplo. Padre não se casa. Mas o ponto é que aquela vagabunda estava me traindo mesmo antes de nos casarmos. De novo este pode ser só o vício me induzindo a beber. Somos então uma entidade anexada ao vício e não o contrário. Não sei. Não sei de nada. Ninguém fala das coisas boas que a bebida traz. Sim, fiz amigos e descobri coisas novas em conversas de bar. Nos últimos 3 anos 4 meses e 21 dias quando não bebi, assisti televisão e naveguei na internet como se não tivesse mais compromisso na vida. E não tinha mesmo. Não criei amizades verdadeiras em conversas na internet. Minha vida sexual está reduzida e uma puta por mês quando posso pagar e horas de pornografia diária. Meu patrocinador diz que eu tinha um vício cruzado, sexo e bebida. Agora que estou “em recuperação” de um, falta “administrar” meu outro vício. Mas que droga...O sexo é uma necessidade básica... Mais uma vez, isso só pode ser meu vício em sexo falando comigo."


Este é um minuto na minha vida. Penso coisas como esta todas as horas que passo acordado. Minha vida se resume a isto aqui que escrevi, com algumas pequenas variações, multiplicada por cada minuto que ainda me resta nesta terra.

6 comments:

Anonymous said...

O que surpreende é a lucidez com o suposto adicto reflete sobre seus "vícios". Pelo que consta, o ORNITO tem experiência vivida sobre alcoolismo apenas "do lado de cá", portanto, deve ter sido doloroso excrever esse texto do ponto de vista daquele que se encontra "do lado de lá". Parabéns pela coragem e pelo belo escrito.

Anonymous said...

O primeiro prágrafo é assim: "O que surpreende é alucidez com que o suposto adicto reflete sobre seus "vícios"."

Daniel Caron said...

antes um bêbado conhecido do que um alcólootra anônimo. e tenho dito!

Anonymous said...

Texto legal.... o debate na conciencia do individuo ficou bem intrigante..... Acho que vicio e uma palavra usada muito em avulso.... qualquer coisa que seja feito com mederacao e conciencia, daih vira um estilo de vida...

Má Mosol said...

Pode tomar um vinhozinho que não dá nada! Hihihi.

Alien 8 said...

Prezado Valério,

Não se preocupe com o seu alcolismo pois ele é crônico e não agudo.

Imagine os que sofrem de nicotinismo, marijuanismo, cocainismo, heroinismo, anfetaminismo, craquismo ou sedativismo.

Bem, você está certo somos uma sociedade de viciados.

Alienado