Tuesday, November 20, 2007

O Livro e o Kindle

O livro é o símbolo supremo da inteligência, da sabedoria e da cultura. Mas o que diabos é um livro afinal?

Um livro é composto de páginas. Páginas são retângulos de papel grudadas em um dos lados por cola, grampos ou costura. Várias destas páginas cobertas por um outro pedaço de papel, geralmente mais grosso e/ou com algum tipo de ilustração, chamado de capa, fazem um livro.

Pronto.

Ah, detalhe que eu quase esqueci. Um livro só é um livro mesmo, se neste monte de papel estiverem impressos símbolos chamados letras. E tem mais. Estas letras devem estar organizadas em palavras e as palavras em frases. Quando estas frases têm uma certa ordem e coerência e transmitem idéias aos leitores (leitores são as pessoas que olham para um livro e decodificam os símbolos em suas cabeças) temos finalmente o livro.

Pronto? Na verdade não.

O livro transcende o físico. A manifestação física, o objeto em si não é nada, de nada interessa. Afinal que uso tem um monte de papel? Fazer fogo, talvez. O livro é na verdade as idéias que ele transmite. Estas idéias são o que alimenta a inteligência, a sabedoria, a cultura dos homens. Em suma: dane-se a forma e viva o conteúdo.

Todos concordam? Com perdão pelo lugar-comum (lugares-comuns são atentados a boa escrita de frases e de livros): Aí que o bicho pega.

A maior empresa virtual e maior revendedora de livros do mundo, a Amazon.com, acaba de lançar o Kindle, “a evolução (substituição?) do livro”. O Kindle não tem nada a ver com um livro na forma. É de plástico, vidro, silício e todos estes materiais que constituem um computador moderno.

O problema é que prevejo que autores e leitores discutirão e tomarão lados se são adeptos ou não do livro digital. Eu consigo já visualizar muita gente boa criticando o Kindle e defendendo o valor do livro impresso. Mas não haverá perdão para estes últimos. Eles estarão dando valor a um monte de papel e esquecendo o que realmente importa. E logo eles que lêem tanto e portanto deveriam ser adoradores da inteligência, sabedoria e cultura.




Para saber mais sobre o kindle (em inglês):

8 comments:

Anonymous said...

Caro Ornito,
Você já antevê um "briga" entre os adeptos do papel e os outros, com muita razão. Eu sou "papeleiro" até me provarem que esse livro virtual é prático. Além do mais, duvido que o Kindle tenha cheiro. Explico, quando estudava na Universidade, tinha um colega meio piradão que era um leitor quase tão intenso como eu, a diferença é que ele era viciado no cheiro dos livros, sim! exatamente isso, viciado em cheiro de livros. Além de ler muito ele curtia o cheiro da tinta e do papel dos livros. Creio que isso é um componente não deeprezível na hora de ler. Existem outras razões por que se lê um livro, entre lelas sito: tamanho, peso, capa, autor, assunto, aparência etc... Quando o Kindle estiver realmente competindo com o livro de papel ele terá que apresentar características que o definam como um livro atraente e não só ter conteúdo. Fica uma pergunta: O que acontece se você está lendo no acampamento e acaba a bateria? Esse assunto é muito extenso e e complexo e não dá para explanar numa seção de comentários, talvez eu faça um post no meu blog. Até lá.

Daniel Caron said...
This comment has been removed by the author.
Daniel Caron said...

Me desculpem os adeptos das novas tecnologias (me incluo aqui), mas definitivamente fico com papel. Sinto muito árvores, mas carregar idéias talvez seja o mais digno destino da celulose.

Na fotografia, mesmo depois do digital ter dominado o mercado nos últimos 10 anos e já ter mostrado capacidade para reproduzir cores, texturas e profundidade com excelente grau de fidelidade, ainda assim o filme é superior.

Com filme, o clique é definitivo. Se precisar ser tratado é porque não presta. Mas se está perfeito, está perfeito mesmo! Já no digital, o clique é só o primeiro passo para o tratamento e pós-produção da imagem. Um clique, por mais perfeito que seja, nunca passa sem algum retoque.

Gosto de livros de papel, rolos de filme e vitrolas de vinil. Nem aos CDs eu me adaptei bem. E vai ser difícil mudar isso.

Anonymous said...

Ô Caron, vamos pugnar pela formação do "Exécito dos defensores da pureza das coisas que deram muito certo e não aceitam ser substituídas por 'gadgets' de qualidade discutível". Seremos os pioneiros de uma ONG pela preservação dos LP,fotos não digitais e livros de papel. VIVA A QUALIDADE! FORA A MODERNIDADE!

Daniel Caron said...

Gostei da idéia da ONG!

Mas entenda que não sou contra a tecnologia, apenas a favor do seu uso racional. Acho terrível esse complô que super-valoriza o consumo.

Um carro não deixa de ser bom quando é lançado o modelo seguinte. A mesma lógica se aplica à máquinas fotográficas, discos e livros.

Minha posição é verde. Pelo uso racional dos recursos do planeta sou a favor da reciclagem geral, ampla e irrestrita.

De discos, filmes, livros... Máquinas fotográficas, bicicletas e até automóveis.

Anonymous said...

Daniel, você dá o exemplo do carro para ilustrar tua concepção de substituição. Note que um carro de modelo novo, por mais revolucionário que seja esse modelo, não é uma "coisa nova" que veio substituir uma antiga, não é a substitução tecnológica de alguma coisa que já existe, é apenas um aperfeiçoamento, é apenas uma melhoria de qualidade, ou "up grade" se desejar usar uma expressão em moda. Quanto ao livro "kindle", este veio com uma concepção de livro que foge totalmente ao que, usualmente, entendemos como livro, veio como, por exemplo, a televisão veio para "substituir" o cinema. Sabemos que a TV jamais substituirá o cinema, por mais "home theater" que existam por aí, não é mesmo? Propus a criação daquela ONG maluca por brincadeira evidentemente, mas também sou adepto de não "cair de boca" em tudo que aparece de novo, só porque é novo. Se quiser saber minha opinião sobre "gadgets" dê uma olhada no blog e leia o post "Lepitopi" Abraços, JAIR.

Daniel Caron said...

Oi Jair. Vi lá esse seu post.Sei como vc se sente. Abraço!

Augusto Ouriques Lopes said...

Bem, o objetivo do texto foi atingido. A reflexão era o que mais importava. Até porque eu mesmo não sou um grande fã de eletrônicos. Não troco o cinema de película projetada por nada.