Friday, September 07, 2007

Escrevi um pequeno conto em homenagem ao meu cãozinho Zeeko para ajudar a superar a dor por tê-lo perdido.

É um conto bobo, uma mistura de ficção científica e fábula infantil. Nada, nada, escrever estas linhas me fez bem.

Zeeko, viajante do tempo.

“O que que eu vou encontrar para comer aqui?” foi o primeiro pensamento do jovem chihuahua Zeeko na chegada da sua viagem no tempo rumo à era dos dinossauros. Um pensamento muito elaborado para um cachorro, vocês podem argumentar. Acontece que o Zeeko tinha sido treinado para atingir o máximo de seu potencial intelectual desde seu nascimento. O grupo que o treinou foram os próprios cientistas de Houston da Missão: “Viagem no Tempo”, ou como eles preferiam chamar de brincadeira; Missão: “Fazendo Xixi na Perna do Tiranossauro Rex”.

O treinamento começou como qualquer cãozinho é treinado. Com méritos Zeeko passou pelo “Senta”, “Deita”, “Rola”, “Dá a patinha”, e todas estas coisas. Depois desta fase um elaborado cardápio de proteínas foi desenvolvido para que o pequeno chihuahua fosse capaz de apreender ainda mais. As carnes escolhidas, para muito gosto do Zeeko, foram filé mignon e picanha. À base deste cardápio ultra proteico mais alguns outros ingredientes ultra secretos, que não podemos divulgar aqui, o Zeeko se tornou o cachorro mais esperto do planeta.

O treino então passou para outras fases. Zeeko entendia que quadrados azuis eram diferentes de triângulos vermelhos. Calculava que a raiz quadrada de 121 era 11. E para Zeeko estava na cara quem mandou matar JFK. Outro detalhe que infelizmente também não podemos contar pra vocês.

Então foi assim que Zeeko foi capaz de pensar: “O que que eu vou encontrar para comer aqui?” quando colocou as patinhas no período Jurássico. Seu segundo pensamento foi de orgulho de si mesmo, tinha certeza que a cachorrinha Laika sua grande paixão eterna e fonte de inspiração ficaria orgulhosa dele. Como vocês sabem, a cadelinha Laika foi o primeiro ser-vivo a ir para o espaço em 1957 a bordo da espaçonave russa Sputnik 2. O que talvez vocês não saibam, mas Zeeko sabia, é que ela não morreu naquela empreitada, não. Ela simplesmente passou por um buraco negro e foi parar em um outro plano espacial-temporal onde o mundo pertence aos cachorros. Lá, todos os sofás e camas são feitos para serem subidos. Os cachorros podem ficar sujos e fedidos, sem incomodar ninguém naquela dimensão. E os tênis, cabos de impressoras, travesseiros e meias são feitos para serem mordidos. Agora vocês entendem porque a Laika não quis voltar para a Terra.

Mas voltemos o ao pequenino Zeeko perdido no imenso continente chamado Pangeia. Sua missão ali não era das mais complicadas. Ele tinha que primeiro voltar no tempo o que já era um grande feito para a humanidade (ou melhor, para os cães, mais uma vez, Zeeko pensava) e segundo ele tinha que achar algo para levar com ele para o futuro.

Ele achou logo uma pequena orquídea amarela, que como Zeeko havia aprendido foi o que eventualmente selou a extinção dos grandes lagartos alérgicos as flores recém surgidas na linha evolutiva das plantas.

Pronto, missão cumprida. Mas aquele estômago roncando mais que um Braquiosauro tinha que ser atendido. Zeeko sabia que qualquer saída da zona de segurança poderia causar problemas no futuro. Alterar qualquer coisa no passado, pisar sem querer num besouro por exemplo, pode gerar uma séria de reaçãos em cadeia através das eras e mudar o presente como o conhecemos. Um besouro morto, por exemplo, não iria dar origem a uma outra espécie de besouros usados em mumificações no Egito, sem seus semi-deuses mumificados o egito não teria fé suficiente para se tornar um grande império, os gregos por sua vez não teriam aprendido nada com os egípicios, os romanos não teriam aprendido nada com os gregos e assim em diante. Estaríamos provavelmente vivendo nas cavernas ainda hoje.

Porém por mais inteligente que Zeeko fosse e compreendesse tudo isto, ele ainda era um pequeno cão levado e tinha que dar uma explorada pela redondeza. Com cuidado, é claro, para não alterar muito o ambiente a sua volta.

Caminhando pela floresta ele via Pterodátilos voando por sobre o topo de araucárias gigantes. Numa planície afastada Zeeko conseguia ver um grupo de braquiossauros gigantescos do tamanho de Boings 707 como os seus amigos cientistas gostavam de comparar. Os Branquiossauros tomavam banho num lago aquecido por calor vindo direto do magma da Terra. Mas nesta curta caminhada Zeeko tem uma visão ainda mais espantosa. Logo atrás de uma imensa rocha um Tiranossauro Rex dormia. A enorme barriga do dinossauro subia e descia enquanto ele respirava por narinas que mais pareciam dois vulcões em erupção soltando rajadas de vento. Zeeko então, com cuidado para não acordar o terrível Rex, chega de mansinho e faz aquilo que começou como uma brincadeira no laboratório dos cientista. Zeeko fez xixi na perna do Tiranossauro Rex.

Depois disto até a fome passou, cheio de orgulho o pequeno Zeeko vai saltitando de volta para a zona de segurança. Tinha deixado sua marca na história do planeta.

Ele entra na zona de segurança e dá uma balançada sacudindo as orelhas para acionar seu transportador temporal preso na coleira e zuuuum (este é o som de um chihuahua viajando pelos milênios).

“Putz” foi o primeiro pensamento de Zeeko na sua volta para o presente. Aquele mero xixizinho tinha alterado o rumo da história como era uma possibilidade. Ele não tinha voltado para o laboratório dos cientístas em Houston de 2007 como deveria. Ele voltou para 1957, e acreditem vocês, estava dentro da cápsula espacial Sputinik 2 flutuando pelo espaço sideral com seu grande amor, a Laika.

Ela olha para ele encantada. Encantada pela chegada triunfal daquele cão e encantada também pelos lindos olhos negros e redondos daquele Chihuahua. Zeeko, agora pensando e falando na língua dos cães para poder se comunicar com ela, fala com um ar sedutor e jeito de cachorro malandro. “Oi cheirosa, meu nome é Zeeko com K, assim como o K de Laika. Trago esta linda flor para você.”

Daquele momento em diante os dois não se separariam mais pelo resto de suas vidas. Fariam filhotinhos e seriam felizes para sempre numa dimensão onde as meias são feitas especialmente para serem mordidas.

Sputnik 2


Laika. A primeira exploradora espacial.

Zeeko. Pouco antes da sua viagem no tempo.

7 comments:

Anonymous said...

Muito bom. Muito bom mesmo. Gostei do conto e mais ainda do final feliz, e foram felizes para sempre.Beijos. Mãe.

Anonymous said...
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Anonymous said...

É, pode existir alguma verdade nessa história, porque sabe-se que cachorrinhos não morrem, quando desaparecem da terra mudam-se para uma dimensão desconhecida do espaço-tempo onde só são admitidos cãezinhos que não viveram todos os anos que tinham direito no planeta dos homens.

Daniel Caron said...

Muito boa narrativa Lopes. Me lembrou o texto do Douglas Adams (Hitchhiker's Guide to Galaxy).

Zeeko, o pequeno chihuahua, é personagem e tanto. Espero que lhe inspire outras tantas histórias.

Grande abraço

Anonymous said...

Eu sempre achei o Zeeko com uma cara de austronauta mesmo....

Anonymous said...

Oi Gu......que coisa esta. Tomara que nesta viagem do tempo o Zeeko tenha encontrato o Frê e outras personalidades especiais...com certeza estará em boa compania.Beijos.... e cuida em do seu pé.

R. R. Barcellos said...

Não é um conto bobo. Você inclui no texto todos os ingredientes necessários a uma obra de maior porte. Guarde com carinho esse "conto bobo"; no futuro, você poderá desenvolvê-lo como sua imaginação (e sua emoção) permitirem.